Ensinos de um picaretólogo batista moderno

Chanel Número 5

No sábado 06/11, Atalaia e eu resolvemos assistir a um culto “avivado” na Segunda Igreja Batista em Vila do Peão, na periferia de Terê. Gastamos quase uma hora para chegar à igreja, onde iria pregar um famoso picaretólogo da Teologia da Fé/Prosperidade. Dizem que o “cujo” é tão poderoso em matéria de “unção” que o seu cachê oscila na base R$5.000. Entende-se, portanto, que o dízimo dos membros das igrejas, onde ele é recebido, está sendo “muito bem empregado”. Ele é conhecido pelos batistas como “o boca suja”, pois gosta de pichar a denominação. Contudo, por amor ao cachê, ele se comportou muito bem, sem agressão alguma, nesse culto de anteontem. E ainda sugeriu que os ouvintes fizessem tudo para ele voltar a pregar ali, novamente, pois amava aquela igreja, etc. E acrescentou que “um culto pentecostal, sem barulho e gritos de aleluias é um culto morto”. Atalaia e eu preparamos os ouvidos...
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Depois de meia hora de estridente som do conjunto musical da igreja, o pregador convidado assumiu o púlpito. Com boa aparência, charme e simpatia, falando corretamente a nossa língua, ele passou meia hora fazendo um ostensivo comercial dos seus produtos, isto é: camisetas (3 modelos), CDs e DVDs. Observei que, além de pregador da prosperidade, ele é um excelente “garoto propaganda” e deve vender muitos produtos em cada apresentação que faz nas igrejas que o convidam para pregar.
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A pregação começou às 21 horas, após a ensurdecedora música do conjunto jovem e a propaganda ostensiva. Em seguida, ele declarou que muita gente o chama “pregador chorão”, por ser muito emotivo. E mandou que todos o acompanhassem na leitura de Amós 9:1-7. Mais que depressa, transformou todos os presentes em judeus, afirmando que “a Igreja é a nova Israel de Deus”. Passou 40 minutos dissertando sobre a travessia do deserto, mostrando um grande conhecimento sobre o Tabernáculo e uma porção de outras coisas relativas ao texto lido... Por que se prega tanta história de Israel, em vez do Evangelho de Cristo, nesses cultos “avivados”? Imagino que seja para engodar os ouvintes “inocentes”, espiritualizando as citações bíblicas...
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Ele anunciou que todos os crentes ali presentes poderiam se tornar prósperos, após terem depositado uma oferta de R$100, no gazofilácio, como “prova de fé e confiança na bondade do Senhor”.
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Anotamos algumas de suas frases, conforme ele ia pregando.
1. Esta terra é nossa. Ela foi usurpada por Satanás, depois do pecado de Adão e Eva. Mas, agora, nós vamos tomá-la de volta.
2. Existem dois tipos de culto: o gelado, tradicional, chamado “culto racional”, e o culto alegre, cheio de aleluias e unção, que é o “culto emocional”, ou metafísico (???) [Nota: Meu QI é tão baixo que não entendi o que ele quis dizer...]
3. Um sacerdote vivo, como os da tribo de Levi, jamais iria aceitar um culto morto.
4. Jesus era um empresário. Ele não era pobre, pois morava à beira mar, onde somente os homens de posses costumam residir... Jesus andava de jegue porque era o transporte oficial dos judeus e somente os governantes romanos usavam carruagens.
5. “Vocês são brasas vivas. Agora, cada um deve cheirar o pescoço do irmão ao lado, como um ato de ‘loucura’”. [Nota: Mais uma vez, meu baixo QI não colaborou... Não entendi por que Atalaia, meu honesto e discreto companheiro de “noitada”, perdeu uma excelente oportunidade de cheirar meu cangote, visto como eu estava usando um legítimo Chanel Número 5, comprado em Paris pela minha filha alemã].
6. Profetizo que todos os crentes que estão aqui, de coração aberto e generoso, vão voltar para casa usando um par de asas. Todos nós temos o nosso anjo particular (o anjo da cura) etc. ... [Nota: Esta doutrina não é do Mokito Okada, fundador do Messianismo? Atalaia me contou que ele prega até em igrejas unitaristas, como a do “apóstolo” Ouriel de Jesus].
7. Ainda é tempo... Quem quiser colaborar com a obra do Senhor e estiver desprevenido, pode dar cheque pré-datado.
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Durante os mais de 40 minutos de pregação, ele citou o Nome de Jesus apenas duas vezes, conforme o item 4. Palavras como “pecado”, "arrependimento”, confissão de pecados, vida honesta, etc., não foram pronunciadas. [Nota: Acho que na Bíblia dele faltam todas as Cartas de Paulo]. Cada vez que ele se exaltava, depois de falar uma heresia, os crentes gritavam aleluias e esmurravam o ar, na maior euforia. Meus tímpanos octogenários quase arrebentaram.
No final do culto, quando eu já me sentia “carregada de tanta unção”, escutei mais uma pérola “evangélica”. Foi quando ele exaltou o nome de alguns “heróis da fé”, começando com Aimée Semple McPherson, fundadora da denominação “Quadrangular”. Ach Du, Mein Gott! E citando outros igualmente “ungidos”, terminando com o Apóstolo Paulo... Só esqueceu de citar o nome do unitarista Moon e de fazer a mesma declaração feita em outro culto, ou seja: que “em vez de qualquer unção que possa receber e transmitir aos presentes, ele preferiria ser cuspido pelo Benny Hinn”.
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No próximo texto, vou apresentar mais informações sobre este pregador “ungido”, mas “de outros carnavais”, pois agora cansei de tanta “unção”.
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