Adoração Extravagante
LEITURA BÍBLICA - Jo 4.23,24
INTRODUÇÃO
1. Hoje, o conceito de adorador está intimamente ligado à execução da música. Muitos utilizam o termo “adorador” como um título.
2. À luz da Bíblia, o adorador não precisa ser, necessariamente, um músico ou cantor. O adorador é um crente que teme ao Senhor. O profeta Jonas, por exemplo, quando interrogado acerca de quem era e o que fazia, disse que era um adorador (Jn 1.9, “Eu sou hebreu, adorador do Senhor ” , literalmente).
3. O verdadeiro adorador é o servo do Senhor, humilde, reverente, santo, que cultua a Deus, reconhecendo, ao mesmo tempo, a sua própria pequenez e a grandeza do Todo-poderoso (Sl 138.6; Lc 18.9-14).
I. ADORAÇÃO E LOUVOR
1. Adoração, louvor e cântico são distintos
Uma passagem que mostra claramente essa distinção é 2 Crônicas 20. Todos os que desejam aprender sobre o assunto devem estudar esse capítulo.
a) Adoração. O que é a adoração, à luz da Bíblia, individual ou coletiva? A adoração é o produto do verdadeiro adorador. Adoração e louvor são intercambiáveis, mas não se confundem. A adoração verdadeira não combina com extravagância; ela é sempre reverente. (1) A adoração no Antigo Testamento (Gn 24.26; Êx 12.27; 34.8,9; 2 Cr 20.18; 29.29; Ne 8.6; Jó 1.20: Sl 95.6). (2) A adoração no Novo Testamento (Mt 2.11; 1 Co 14.25). É importante observar que até o Diabo sabe que adoração pressupõe reverência, prostração (Mt 4.9). Como será a adoração no Céu? Leia Apocalipse 4.10; 5.14; 7.11; 19.4.
b) Louvor. É a expressão, a verbalização, a exteriorização, do que está em nosso coração (Sl 57.7). O temor deve preceder o tremor (Sl 2.11; 1 Co 2.3; 2 Co 7.15; Fp 2.12). O louvor não se limita ao cântico (Sl 103.1,2; 1 Ts 5.23; Lc 1.46,47; Is 26.9). E a dança, faz parte do louvor? Discorreremos sobre isso, posteriormente.
c) Cântico. É um meio de expressão do louvor; é o louvor com música (Sl 149.1; 69.30). Faz parte do culto a Deus (1 Co 14.26). Muitos cantam sem louvar (Am 5.23; Is 29.13).
2. Características do louvor com música - 2 Cr 29.25-30
a) Foi ordenado pelo Senhor - v.25.
b) Seus instrumentos são consagrados a Deus - v.25.
c) É executado com ordem - v.26.
d) Os músicos são submissos ao líder - v.27.
e) Os músicos estão preparados - v.27.
f) Não há lugar para más inovações - v.30.
g) Produz alegria espiritual - v.30.
h) Deus o recebe - vv.28,30.
II. ERROS QUE OS ADORADORES DEVEM EVITAR
1. Dessacralizar o louvor com música
a) A melodia é a parte mais importante da música sacra, pois relaciona-se com o espírito, a parte mais relevante do tricótomo ser humano (1 Ts 5.23).
b) Na música sacra, a harmonia e o ritmo não se sobrepõem à melodia. Quando isso ocorre, abafa-se a essência da música sacra. Isso também pode ser chamado de dessacralização.
c) Se a ordem for invertida, quem estará sofrendo influência com mais intensidade será o corpo, como acontece com alguns estilos musicais não apropriados para o louvor:funk, forró, etc.
2. Empregar todo e qualquer tipo de estilos musicais chamados de gospel
a) A palavra gospel, em inglês, significa “evangelho” ou “evangélico”. Como estilo musical, foi usada na década de 1920 por Thomas A. Dorsey, cantor de blues da Geórgia (EUA) e filho de um pastor batista. Mas a origem do gospel rhythm remonta ao final do século XVIII, quando escravos africanos adaptaram hinos religiosos, injetando neles vários elementos de sua tradição musical. No século XIX, o gospel chegou aos Estados Unidos, junto com os escravos, e passou a ser chamado de negro spirituals, uma espécie de blues sacro. A semelhança entre os ritmos era tão grande que muitos cantores da época começaram a carreira cantando o negro spirituals em igrejas protestantes.
b) É importante distinguir entre o gospel surgido nos EUA e o sincrético estilo utilizado nos dias de hoje. O primeiro é um tipo de blues, enquanto o gospel hodierno abarca diversos estilos (rock, funk, rap, axé, samba, forró, etc.) com letras cristãs. Em outras palavras, qualquer música, hoje, pode ser considerada apropriada para o louvor, desde que fale de sonhos, vitória, etc.
c) Na atualidade, muitas músicas tocadas nas igrejas estão carregadas de agressividade e barulho. Alguns cantores evangélicos, com uma postura de quem quer demolir o mundo, afirmam que fazem tudo para a glória de Deus, ignorando o que está escrito em Colossenses 3.16.
d) Em Levítico 9.23-10.2, mencionam-se três tipos de fogo. Deus manifestou-se por meio do “fogo da sua glória” (9.24). Nadabe e Abiú, filhos de Arão, trouxeram um “fogo estranho” (10.1) ao santuário, e o Senhor os castigou com o “fogo do seu juízo” (10.2). Que seria esse “fogo estranho”? Falta de reverência? Vasos sujos? Sacerdotes em pecado? Culto simultâneo a deuses estranhos? Incenso estragado? Utilizar estilos musicais impróprios para o louvor a Deus é o mesmo que usar “fogo estranho”: algo que o Senhor rejeita, abomina.
3. Substituir o culto de louvor por “louvorzão” ou shows
a) Culto não é show! Os shows se caracterizam por som alto e dançante, luzes coloridas, “fumaça” (gelo seco), roupas extravagantes ou sensuais, linguagem chula, paquera, etc. Por incrível que pareça, há cultos ditos evangélicos em que todos esses elementos estão presentes! O verdadeiro culto a Deus caracteriza-se pela reverência, pelo temor do Senhor e pelos elementos apresentados em 1 Coríntios 14.26.
b) Alguns músicos, líderes de louvor e obreiros têm chamado de “louvorzão” o culto de adoração a Deus. Mas esse título é impróprio para uma reunião de adoração a Deus, posto que a deprecia. O sufixo “zão” vulgariza o vocábulo “louvor”, que, aplicado ao Senhor, é sacro, digno de respeito.
c) Há músicos que observam os intérpretes mundanos e depois fazem a mesma coisa na igreja. Não devemos abrir mão da reverência (Ec 5.1; Sl 2.11; 5.7). Chamar um culto a Deus de show ou “louvorzão” é um desrespeito ao Senhor.
4. Gostar de barulho
a) Em algumas cidades brasileiras, as reclamações a respeito do barulho nas igrejas são tantas, que levaram a prefeitura a adotar uma medida drástica: obrigar todas as instituições e espaços destinados a cultos religiosos a ter dispositivos de proteção acústica (bloqueadores de ruídos), prometendo multar, cassar licença, retirar equipamentos sonoros ou até fechar os estabelecimentos onde o barulho ultrapasse os limites permitidos para cada zona e horário. Seria isso uma perseguição?
b) O nosso ouvido possui limitações e não suporta altos níveis de ruído. A intensidade de som é medida em decibéis, que aumentam de forma logarítmica, e não aritmética. Nesse caso, um simples aumento de três decibéis implica dobrar a intensidade do som. Como comparativo, um aspirador de pó chega a produzir 80 decibéis, e uma turbina de avião, 120.
c) Constatou-se, por meio de estudos científicos, que o ouvido humano pode suportar, sem prejuízo auditivo, as seguintes taxas:
• A 111 decibéis, quase 4 minutos.
• A 120, cerca de 28 segundos.
• A 129, quase 4 segundos.
• A 138 decibéis, o ouvido suportaria menos da metade de 1 segundo!
Não é por acaso que há várias pessoas com deficiência auditiva.
5. Utilizar a dança como uma forma de louvor
a) Artisticamente, a dança é definida como uma sucessão rítmica de passos, saltos, movimentos corporais, ordinariamente ao compasso de música. O vocábulo “coreografia” significa: “arte da dança; arte de compor bailados”. Por isso, analisaremos os elementos dança e coreografia como se fossem um só.
b) Seria a dança uma forma de adoração? É lícito o uso de coreografias nos cânticos de louvor? De acordo com o apóstolo Paulo, “Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convém; todas as coisas são lícitas, mas nem todas edificam” (1 Co 10.23).
c) A dança sempre fez parte intrínseca dos cultos aos deuses e nasceu associada a práticas mágicas do homem. A sua origem remonta às celebrações à deusa Ísis e o touro Ápis, no Egito, e à deusa Herta, dos teutônicos, passando pelos rituais dionisíacos gregos, bem como pelos licenciosos e orgíacos bacanais romanos. Ainda hoje, faz parte dos cultos às divindades. No candomblé, os “filhos-de-santo” dançam, invocando os orixás, enquanto os demais interpretam diversas danças características das entidades.
d) Algumas igrejas têm empregado a dança em seus cultos. Tudo começou quando alguns jovens resolveram se movimentar de um lado para o outro, enquanto acompanhavam com palmas os hinos mais ritmados. Com a introdução dos ritmos “pesados”, os exageros começaram a aparecer. Hoje, ao som de white metal, jovens têm chacoalhado a cabeça para frente e para trás rapidamente, como acontece nos shows de heavy ou black metal!
e) Ao serem questionados sobre a dança, alguns líderes de louvor argumentam: “Claro que o crente pode dançar. Miriã e Davi dançaram! Além disso, os mandamentos dos salmos 149.3 e 150.4 são mais do que claros”. Entretanto, o Novo Testamento, que apresenta os principais ensinamentos para a Igreja, não menciona a dança como parte integrante da adoração a Deus.
f) Os Evangelhos mencionam apenas a dança da filha de Herodias perante o perverso Herodes (Mt 14.6; Mc 6.22) e as analogias de Jesus nas quais a dança recebe importância secundária e simboliza a alegria (Mt 11.17; Lc 15.25). Essas poucas ocorrências provam apenas que ela fazia parte dos costumes judaicos (e não do culto a Deus, na Antiga Aliança), não servindo de base para introduzi-la no culto neotestamentário.
g) Jesus, ao falar da adoração, disse: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.23,24). Paulo, ao mencionar o dever universal de louvar a Deus, afirmou: “Louvai ao Senhor, todos os gentios, e celebrai-o, todos os povos” (Rm 15.11). Ambos não fizeram nenhuma menção à dança. Tiago, por sua vez, disse apenas que, ao nos sentirmos alegres, devemos cantar louvores (Tg 5.13). E João, quando teve a oportunidade de contemplar um pouco das belezas celestiais, não viu nenhuma forma de louvor com dança (Ap 4,5,7 e 19).
h) De fato, Miriã, Davi e outros dançaram em um momento de extrema alegria e de felicidade incontrolável. É plenamente compreensível o fato de uma pessoa saltar e dançar (movimentar-se) de tanta felicidade, como aconteceu com o ex-coxo que ficava à entrada do Templo, em Jerusalém (At 3.8). Entretanto, movimentar-se em um momento de grande alegria não equivale, em hipótese alguma, a dançar sob ritmos eletrizantes ou empregar coreografias previamente ensaiadas.
i) Os mandamentos dos Salmos mencionados podem ser explicados, à luz dos seus contextos imediato, remoto, histórico-cultural, literário, etc. A melhor tradução para o termo original hebraico, à luz da analogia geral, é “flauta”, e não “danças”, visto que esta jamais fez parte do louvor a Deus. Observe que Davi e Asafe não introduziram a dança na liturgia da Antiga Aliança. Eles convocaram apenas cantores e músicos, e não dançarinos e coreógrafos (1 Cr 25).
j) Mesmo que o salmista tivesse se referido à dança, nos Salmos 149 e 150, o contexto imediato mostra que tais mandamentos eram específicos para os judeus: “Alegre-se Israel naquele que o fez, regozijem-se os filhos de Sião no seu Rei” (Sl 149.2). Muitos “adoradores” se apegam aos supostos mandamentos sobre a dança, mas ignoram o fato de os mesmos Salmos ordenarem que o louvor deve ser executado com uma espada na mão, a fim de matar, literalmente, os inimigos de guerra (Sl 149.6,7). Quando são lembrados disso, os tais “adoradores” afirmam que a espada e a guerra são simbólicas. Ora, então por que a ordem sobre a dança deve ser tomada de modo literal?
CONCLUSÃO
O culto que oferecemos ao Senhor não deve ser formado apenas por músicas, mesmo que sejam de adoração. Infelizmente, em alguns lugares, a parte de louvor toma mais do que 90% do tempo do culto, em detrimento da exposição da Palavra de Deus (Sl 100.4; Nm 2.9). Os cânticos de louvor devem preparar o ambiente para que o Senhor se manifeste por meio da pregação da Palavra e dos dons espirituais. “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. “Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. “... faça-se tudo decentemente e com ordem” (1 Co 14.26,33,40).
REFERÊNCIAS
BLANCHARD, John. Rock in Igreja?!. São José dos Campos: Fiel, 1989.
BRANDT, L. Robert, BICKET, Zenas J., GAARDER. Teologia Bíblica da Oração. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
OLIVEIRA, Joanyr de. A Igreja que Desejamos. São Paulo: Vida, 1989.
ZIBORDI, Ciro Sanches. Erros que os Adoradores Devem Evitar. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
___________. Mais Erros que os Pregadores Devem Evitar. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
___________. Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
___________. Erros que os Pregadores Devem Evitar. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
Autor: Ciro Sanches Zibordi