É o Brasil


Em geral, quando alguém utiliza a expressão “isso é o Brasil” o sentido é claramente pejorativo. Uma boa dose de desalento e resignação entram na receita de uma avaliação francamente pessimista a respeito não só dos costumes atuais do país, mas do que se pode esperar daqui para a frente. Em grande medida, o diagnóstico é correto. Assim como há pessoas que não dão certo na vida, há também nações que acabam fracassando, quando tinham tudo para enricas e prósperas. Apesar de ter sido colonizado por degredados e prostitutas e de ter sido sangrado historicamente pelos piores tipos de selvagens predadores de suas riquezas naturais, o país ainda tem tudo para dar certo.
Começa pelo fato de que o brasileiro é um povo ordeiro e trabalhador. Se somos hoje a oitava ou sétima economias do mundo, isso se deve menos aos gestores e aos planos econômicos do que ao esforço sacrificial de uma população que acredita no trabalho honesto como meio de alcançar um padrão de vida estável e digno. Embora nas altas cúpulas dirigentes a corrupção seja o bonde sem freio da gíria do futebol, na generalidade do povo a tônica é a honesta adesão às leis e à moralidade públicas. É evidente que existem políticos e empresários honrados e patriotas, mas estes se vêem tentados a jogar o sujo jogo da política dos profissionais da corrupção, assim como o policial honesto se vê pressionado pelos colegas corruptos a aceitar suborno afim de não se tornar um corpo estranho do submundo do corporativismo do mal.
Contudo, mais do que em tudo o que foi dito, a esperança para a nação se concentra nos sete mil que não dobraram seus joelhos a Baal. Em nossa época, este falso Deus dos antigos cananitas atende pelo nome de ganância material, leniência moral e covardia no enfrentamento das propostas de uma geração que se dispõe a combater tudo o que se chama Deus. Não há muito o que esperar de pastores, igrejas e adeptos que trocaram a pregação e o testemunho do evangelho pelos cofres abarrotados e pelos templos repletos de pessoas interessados não em serem bênção, mas em receber a própria – em geral pagando caro por isso. Igualmente, se um outro militante do vale-tudo moral que se instalou o país se converte, é difícil crer que conversões em massa ocorram nesse campo. No chamado universo gay, por exemplo, o fator econômico leva o comércio e a mídia a exaltaram esse tipo de conduta simplesmente porque a rentabilidade é garantida. Cabe ao povo de Deus se preparar para combater o mal não só com as armas da oração e da pregação, mas da cidadania que não abre mão de seus direitos, apesar das chantagens e ameaças. No caso, a constituição brasileira garante a liberdade e expressão tanto aos defensores do homossexualismo quanto aos que consideram essa prática uma abominação contra Deus e um mal para a sociedade.
O Brasil tem jeito, mas apenas se o povo de Deus se dispuser a assumir o ônus de uma vivência cristã que não abdica dos princípios, valores e bases da fé que uma vez foi legada aos santos, ainda que sob perseguição e violência. Ser sal da terra e luz do mundo é a sublime vocação dos santos, mas nem sempre essa ação ocorre em condições favoráveis. Há quem prefira comida insossa simplesmente pela certeza de que nada do que é de Deus deva fazer parte de seu tempero, assim como há quem atire pedras nas lâmpadas porque prefere viver na escuridão.
Felizmente, e por isso também o Brasil tem tudo para dar certo – há muitos que esperam a manifestação dos filhos de Deus a fim de que suas vidas tenham sabor e rumo. Nesses 189 anos da independência do pais, é tempo de o povo de Deus perceber que “ser cabeça e não cauda”, longe de dever  ser um projeto individualista de quem carrega consigo tendências inconscientes ao mandonismo, é a missão de um remanescente espiritual que está disposto a assumir na íntegra a vida cristã para cumprir o mandamento profético de ser luz das nações – em especial da nação a que todos amamos tanto.
Fonte: Editorial de O Jornal Batista de 4/9/2011