Hoje estarás comigo

Texto: Lucas 23.40-43
Tema: Hoje estarás comigo
Introdução
Jesus está na cruz, braços abertos. Está a clamar por perdão. Intercede pela multidão que zomba dele. Gritaria, gargalhadas, blasfémias dirigidas ao Senhor que mesmo assim continua a clamar que Deus os perdoe.
É neste momento de confusão que os dois ladrões que estão a praguejar, também zombam do Senhor (Mt 27.44). São pessoas que só pensam em si mesmo. Note que a declaração de um dos ladrões: “salva-te a ti mesmo e a nós” (Lc 23.39). A preocupação é sua libertação. É o desejo de ser salvo no momento, sem se quer pensar no futuro.
Não sabemos muita coisa sobre estes dois ladrões. Um ficou conhecido como o bom ladrão. Contudo, ele não era o Robin dos bosques. Ele não era bom. A Bíblia afirma que estes homens eram bandidos, arruaceiros (Mt 27.38), Lucas declara que eles eram malfeitores (Lc 23.39-43). Marcos dá a entender que estes homens eram os ajudantes de Barrabás e que haviam cometido um assassinato durante uma rebelião (Mc 15.7).
O Senhor Jesus está ali de braços abertos. Crucificado como um malfeitor. Inocente e a clamar pelos seus algozes. Naquele momento, calado, sem responder as provocações, Jesus enfrenta a sua última tentação. Ali ele enfrenta a tentação de descer da cruz e assim não cumprir o propósito do Pai. Ali, ele sofre a dor física e psicológica. Tem poder para descer da cruz, mas se descer condena toda a humanidade à morte. Prefere suportar a dor e calado não responder a zombaria do povo. Jesus de braços abertos, estendido aos pecadores. Braços que estão prontos a receber todo que reconhece suas faltas e se arrepende. Braços abertos a mostrar que a graça é muito maior que o pecado. Braços abertos estendidos aos malfeitores. Na direcção dos que morriam por causa dos seus erros. Eles mereciam a paga dos seus erros (Rm 6.23). Contudo, os seus braços indicam que se eles recebessem o dom de Deus, teriam direito à vida, pois na cruz do meio estava o único que não havia cometido pecado, aquele que estava com seus braços estendidos a receber os pecados da humanidade. Na cruz Jesus assume os nossos pecados. Seus braços estão abertos para todos os que o Senhor faz convergir para ele (Ef 1.10). Na cruz Jesus está recebendo todas as coisas.
É neste momento que um dos ladrões cai em si. Olha para Jesus e o reconhece como Rei e o único que pode dar um novo rumo à sua existência. Por isso, clama a Jesus: “lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.” Muitas coisas poderiam ser ditas sobre esta declaração, mas neste momento desejo reflectir sobre a declaração de Jesus: “hoje estarás comigo no paraíso”.
Vejamos portanto quais as lições que aprendemos com esta declaração do Senhor Jesus.
1 – Jesus recebe quem se aproxima com um coração sincero.
Esta declaração de Jesus é fundamentada na graça. Ela está baseada na misericórdia de Deus. Ali estava um homem que aos nossos olhos merecia a morte. Alguém que não era digno de estar na presença de Deus. Contudo, este criminoso compreendeu o que muitos ainda não entenderam. Ele viu que Jesus é Rei e o dono da verdadeira vida. Ele clama ao Rei da vida humildemente. “A reação de Jesus foi de acolhê-lo sem pedir nada em troca. Esse sempre foi sua atitude em sua trajetória. Toda vez que uma pessoa se voltava para ele, ainda que fosse uma prostituta, a acolhia sem constrangê-la. Não queria saber detalhes de sua história, não especulava sobre suas falhas, não a controlava, mas procurava confortá-la e imergi-la em uma esfera de prazer e liberdade.”[1] Naquele momento de dor, o ladrão foi envolvido pela liberdade que há em Cristo Jesus. Deus o aceitou e o fez uma nova criatura (2 Co 5.17). Quando há sinceridade em nossa atitude, quando mostramos arrependimento e confessamos nossos pecados e clamamos por perdão o Senhor nos recebe junto de Si.
Jesus salva todo aquele que se aproxima dele. Esta declaração de Jesus mostra “o admirável poder e disposição de Cristo para salvar os pecadores.”[2] Jesus está disposto a salvar o ser humano. Foi para isto que ele veio ao mundo. Foi isto que ele disse a Nicodemos: “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (Jo 3.17). Jesus veio para salvar o mundo e não para condená-lo. Por isso, o ladrão recebeu misericórdia quando clamou. Nos seus momentos finais o ladrão descobriu que o amor de Deus é muito maior do que as nossas transgressões.
Uma boa ilustração para este facto é a parábola dos trabalhadores (Mt 20.1-16). Esta parábola fala da vida e como alguns recebem a graça de Deus no fim da sua existência. O Senhor recebe e salva todos que por ele se chegam a Deus (Hb 7.25).
Jesus está a nos mostrar a graça de Deus. A salvação não é fruto do nosso trabalho. Não está relacionada com o nosso esforço. É acto da bondade de Deus. Graça é Jesus de braços abertos a dizer, eu te perdoo. Eu te recebo e te aceito. Eu não te condeno. Isto é graça, e é esta graça que o Senhor está a mostrar ao ladrão na cruz. É esta graça que ele deseja mostrar a cada um de nós.
Tim Shelton olhando para este cenário diz o seguinte: “Mesmo na cruz, Cristo recebe pecadores bondosamente e imediatamente. Esta declaração ao ladrão é a segunda palavra de cruz. Sua primeira palavra é um pedido de perdão, a segunda é a promessa de glorificação. A primeira é uma oração em favor dos seus inimigos, a segunda uma palavra de segurança para um amigo recém-nascido. É uma palavra que demonstra o poder e a autoridade que Jesus tem salvar pecadores. (…) é uma palavra que “vira a estaca da cruz para o trono da graça de Deus” e “compreende, um pequeno sumário de toda a riqueza e glória da redenção. A primeira palavra nos dá uma visão do seu grande coração sacerdotal. O seu carácter de rei é revelado na segunda declaração. Graça e majestade repentinamente se difundem pela luz brilhante através da noite de profunda humilhação.”[3] É na escuridão das nossa humilhação que a luz surge a manifestar a graça de Deus.
2 – Jesus declara que o reino de Deus é uma realidade presente.
O reino não irá acontecer no futuro. Ele já é uma realidade. É hoje. É no aqui e agora. Aquele homem não teria que esperar a segunda vinda gloriosa do Senhor. Ele recebeu a promessa que estaria com o Senhor naquele mesmo dia. “Hoje, significa, antes que o sol desapareça no horizonte.”[4] Devemos compreender que Deus é o Deus do presente. Ele é o Grande Eu Sou. Não será, é já. Devemos olhar para o início ministério de Jesus e ver que começou a pregar e a dizer: “O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos e crede no evangelho.” (Mc 1.15).
Quando alguém clama por Jesus arrependido por seus pecados o reino de Deus se descortina hoje. Não espera para o futuro. É por este motivo que o salmista diz: “Porque ele é o nosso Deus, e nós povo do seu pasto e ovelhas que ele conduz. Oxalá que hoje ouvísseis a sua voz: Não endureçais o vosso coração como em Meribá, como no dia de Massá no deserto.” (Sl 95.7-8). Se Deus está a falar ao teu coração, não o endureça. Não fique a zombar dele. Ouça à sua voz e receba o reino de Deus hoje.
“Hoje estarás comigo no paraíso”, mas hoje não é depois de algumas encarnações, porque afinal de contas tu foste um ladrão, e até alguns minutos atrás tu estavas blasfemando de mim, então meu amigo, tu tens muitas coisas para pagar, precisarás vir repetidas vezes, e, um dia estarás comigo no paraíso. É hoje, não é, olha depois de algumas cerimônias religiosas que serão feitas então tu estarás em condição de entrar no paraíso. Não. Não é olha, depois de algumas velas acesas, depois de algumas orações ditas por ti, depois de várias intercessões tu poderás entrar no paraíso. É Hoje, sem purgatório, sem reencarnação, sem cerimônias religiosas, sem velas, sem sono da alma. Não é a tua alma vai dormir alguns milénios até que eu volte. É Hoje. Este é o tempo de Deus.”[5]
O tempo de Deus é hoje. É agora.
Há algumas perguntas que nos aparecem. Se Jesus morreu naquele dia e o ladrão também. Jesus desceu e foi pregar aos espíritos em prisão? (1 Pe 3.19) Como ele pode estar em dois lugares ao mesmo tempo?
Jesus foi ao até esta prisão anunciar sua vitória ele não ficou lá. Ele deixou toda a acusação que pesava contra nós ali. Devemos também entender que Jesus é Deus e como tal é omnipresente. Contudo, na sua santidade não se permite estar num lugar horrendo como esta prisão. Ele apenas foi lá. Devemos também pensar que Jesus está a viver na realidade eterna. Ele não está limitado pelo tempo. Ele se encontra no espaço do não tempo. É por este motivo que ele declara ao ladrão, hoje estarás comigo no paraíso. Após a morte entramos para o espaço do não tempo. Esta realidade pode ser vivida e desfrutada num constante hoje com Deus para os que o aceitarem ou separado dele por aqueles que o recusarem. Contudo, sua oportunidade é hoje. Não é amanhã. O tempo de Deus para tua salvação é hoje.
3 – Jesus declara que quem se arrepende tem comunhão constante com ele.
Jesus garante companhia eterna a este ladrão. Ele declara que não estamos abandonados e sós. Há vida além da vida. Há vida e comunhão. Não estaremos sós. Não seremos almas penadas. Estaremos com o Senhor no paraíso. Esta foi a promessa de Jesus aos seus discípulos: “eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt 28.20). Jesus nos garante que ele está connosco e que nós estaremos com ele no paraíso. E como o apóstolo Paulo que estar com Cristo é muito melhor (Fp 1.23).
Quem recebe o reino de Deus hoje, pode ter a certeza da companhia eterna do Senhor. A morte já não o assusta e aterroriza. Aliás, para os que estão em Cristo, a morte é um descanso. Descansa-se aqui e acorda-se na gloriosa presença do Senhor.
Aquele ladrão escutou as palavras mais doces de toda sua vida. Comigo. Que segurança é poder descansar no Senhor nosso amigo e amado pelo resto da eternidade. Esta companhia inicia-se hoje.
Aqui surge uma pergunta. Onde se dará esta companhia constante?
Jesus responde afirmando que estaremos com ele no paraíso. Mas o que é o paraíso? “Esta palavra persa que significa “jardim” é usada no Antigo Testamento para certo número de jardins. Especialmente importante é o seu uso para o Jardim do Éden. Talvez a partir daí o termo veio a ser usado para habitação dos bem-aventurados no mundo porvir (cf. 2Co 12.:3; Ap 2:7). É usado desta maneira aqui. Jesus assegura este homem que terá felicidade no futuro imediato, felicidade esta que seria estritamente associada com Ele (comigo).”[6]
Os textos de coríntios e apocalipse mostram que o paraíso é um local de felicidade e descanso. Este deve ser o nosso maior desejo. Ansiar e desejar viver na presença gloriosa do nosso Senhor e Salvador. O paraíso, só é paraíso porque é a casa do Senhor que nós adoramos.
“A promessa de Jesus ao homem é que ele estará no paraíso. O homem estará no Éden, ele estará restituído a sua situação original., este homem é o nosso primeiro cristão autêntico. Ele é o nosso ancestral na fé. É o primeiro homem salvo pela cruz. É o primeiro em cuja vida a cruz produz um impacto de transformação e mudança de destino, é o primeiro a ter a vida eterna assegurada por causa da cruz de Cristo.”[7] Restauração plena. Comunhão eterna com o Senhor. Isto acontece hoje quando a pessoa se arrepende e humildemente pede ao Mestre.
Guisa de Conclusão
Jesus deseja que hoje desfrutemos do paraíso com ele. Isto não quer dizer que iremos ficar livres dos problemas. Talvez tenhamos que passar por muitas dores e sofrimento, mas estas aflições não são maiores que o sofrimento que o Senhor teve para pagar o preço pelas nossas vidas.
Dois ladrões foram crucificados. Jesus foi crucificado entre eles. O Mestre estava de braços aberto pronto a recebê-los, mas somente um clamou pelo auxílio do Senhor. Um clamou e encontrou a misericórdia e a graça de Deus. Outro continuou insensível e morreu nos seus pecados e separado eternamente do Senhor.
Hoje, estamos aqui, e o Senhor continua de braços abertos para receber todos os que a ele clamarem. Não estamos crucificados. Não somos ladrões, mas temos que fazer uma opção. Hoje temos que optar ou pelo reino de Deus ou rejeitá-lo. Jesus está de braços abertos e pronto a dizer: Hoje estarás comigo no paraíso.
Um dos ladrões recebeu a graça de Deus e foi transformado. Reconheceu que necessitava de salvação e clamou ao único que poderia mudar sua vida. E tu, reconheces que necessitas de salvação? Então clama ao Senhor com sinceridade. Entrega-te a ele e deixa que o Senhor abra as portas do paraíso para ti.




[1] CURY, Augusto Jorge. O Mestre do amor Academia da Inteligência, São Paulo, 2002.
[2] RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, 1ª Edição, Editora FIEL, São José dos Campos, 2002
[3] SHENTON, Tim. The Lord of glory crucified! Meditations on the passion of Christ, 1ª edition, Evangelical Press,
Darlington, 1998.
[4] Ibid.
[5] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Hoje estarás comigo no paraíso. www.ibcambui.org.br/mens11.html
[6] MORRIS, Leon, L. Lucas Introdução e Comnentário. 1ª Edição, Edições Vida Nova, São Paulo, 3ª Reimpressão 1996
[7] Op Cit.

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