Em matéria de avivamento consulte Jonathan Edwards

A redescoberta de Jonathan Edwards
A comentarista de assuntos religiosos Karen Armstrong demonstra em seu livro “Uma História de Deus” que não conseguiu captar bem o significado do chamado Grande Avivamento, que varreu a Nova Inglaterra na década de 1730, sob a liderança especialmente de Jonathan Edwards (1703-1758). Para a ex-freira, o que aconteceu nos Estados Unidos naquela época foram “violentas viradas de emoções, uma euforia insana e um profundo desespero”.1 A escritora inglesa nem sequer menciona o intenso trabalho realizado por Edwards para manter o equilíbrio do avivamento, em especial por meio do livro “A Treatise Concerning Religions Affection”, escrito em 1746 e publicado em português com o título “Uma Fé Mais Forte que as Emoções”.

Há testemunhos eloquentes a respeito da importância de Jonathan Edwards na história dos avivamentos americanos e na história da igreja cristã. Ao assumir a presidência do Seminário de Princeton em 1936, o conhecido missionário e teólogo John Mackay sugeriu uma releitura de Jonathan Edwards com esta declaração: “Nós temos que redescobrir Jonathan Edwards. Seus pensamentos nos ajudarão a manter o equilíbrio que nos tem perturbado nestes dias recentes. [...] A verdadeira e última perfeição do cristianismo consiste numa expressão ardente de afeto religioso e um amor para com Deus e o homem”.2

O historiador Bruce L. Shelley diz que Jonathan Edwards é erroneamente lembrado como um pregador dramático que falava sobre o inferno de fogo e enxofre. De fato, em 1741, ele pregou o célebre sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado”. No entanto, o público se esquece de que “ele foi um psicólogo perspicaz, teólogo brilhante e terceiro presidente de Princeton”,3 acrescenta Shelley.

Para Martyn Lloyd-Jones, “nenhum homem é mais relevante para a situação moderna do cristianismo do que Jonathan Edwards. Ele foi, ao mesmo tempo, um teólogo poderoso e um grande evangelista. Ele foi, predominantemente, um teólogo do avivamento. Se alguém deseja conhecer algo sobre o verdadeiro avivamento, deveria consultar Edwards”.4

James M. Houston, fundador do Regent College, em Vancouver, no Canadá, afirma que Jonathan Edwards “é chamado como príncipe tanto no mundo do pensamento quanto na esfera da fé cristã”. E acrescenta: “Como Agostinho e Calvino, ele se coloca como um dos maiores líderes do cristianismo em todo o mundo”.5

Diplomado em Yale aos 17 anos
Há muitas singularidades na vida de Jonathan Edwards. Ele tinha dez irmãs e nenhum irmão. Tanto o pai, Timothy Edwards, como o avô materno, Solomon Stoddard, tiveram pastorados excepcionalmente longos: o primeiro esteve à frente da Igreja Congregacional de East Windsor por mais de 63 anos; o segundo pastoreou a Igreja Congregacional de Northampton por mais de 56 anos. Enquanto o pai morreu aos 88 anos e a mãe aos 98, Edwards não chegou aos 55. Começou a estudar latim aos 6 anos e antes dos 13 já dominava, além do latim, o grego e o hebraico. Aos 13 anos ingressou na Universidade de Yale, em New Haven, no Connecticut, diplomando-se com honra quatro anos depois, em 1720. Em seguida fez seus estudos teológicos e começou a pregar numa pequena igreja presbiteriana em Nova York. Ordenou-se pastor em fevereiro de 1727, aos 24 anos, e casou-se com Sarah Pierrepont, filha de pastor, em julho do mesmo ano. Foi pastor auxiliar de seu avô por dois anos e com a morte dele, em 1729, assumiu integralmente o pastorado da igreja, da qual foi afastado vinte anos depois (1750) por insistir na necessidade de um compromisso verdadeiro com Cristo para participar da Ceia do Senhor.

Perplexo, tendo a esposa e sete filhos para cuidar, Edwards, com 46 anos, mudou-se para Stockbridge, no Massachusetts, e começou um ministério totalmente diferente. Tornou-se missionário entre os índios Housatonnuck (cerca de 250 famílias), aos quais pregava com a ajuda de um intérprete. Seis anos e meio depois, em setembro de 1757, Edwards foi convidado para ser presidente da Universidade de Princeton. Relutante a princípio, acabou assumindo a nova responsabilidade em janeiro de 1758, mas permaneceu menos de três meses, pois adoeceu e morreu no final de março daquele mesmo ano.6

Ossos secos transformados em brasas vivas
Há outras curiosidades na vida de Edwards. Embora não fosse um bom comunicador (seus sermões eram lidos e ele não fitava a congregação), muitos se convertiam com suas pregações. Embora tenha vivido apenas 55 anos, os textos que ele publicou enchem os oito volumes da coletânea editada por Samuel Austin, em Worcester, cinquenta anos depois de sua morte (1809), e os dez volumes da coletânea de Sereno E. Dwight, publicada em Nova York em 1829. Embora acreditasse na doutrina da eleição (Deus escolhe soberanamente os que devem ser salvos), “Edwards queria que todo o mundo fizesse parte dos eleitos”.7 Mesmo tendo se submetido à vacinação durante uma epidemia de varíola, Edwards contraiu a doença e morreu.

Outra curiosidade é que no mesmo ano de sua morte (março de 1758) morreram também seu pai (dois meses depois), um de seus genros, a filha viúva e sua própria esposa.

No dia 12 de janeiro de 1723, Jonathan Edwards, ainda com 20 anos, 11 anos antes do início visível do Grande Avivamento (1734), consagrou-se solenemente ao Senhor. Sem dúvida, essa decisão pessoal e voluntária tem muito a ver com a revolução religiosa dos anos posteriores. Todavia, as coisas começaram a se definir quando Edwards mostrou-se insatisfeito com a pobreza espiritual de suas ovelhas. Os fiéis eram como os ossos secos da visão de Ezequiel e sofriam de uma extraordinária insensibilidade religiosa. Alguns deles entregavam-se à licenciosidade, “pois saíam à noite e frequentavam tavernas, entregando-se a práticas obscenas”.8 Essa situação levou Edwards a pregar sobre a gravidade do pecado e a necessidade de uma mudança interior. Em dezembro de 1734, “o Espírito de Deus começou a trabalhar de maneira extraordinária”, registrou Edwards. “A cidade [Northampton] parecia estar cheia da presença de Deus. Ela nunca ficou tão cheia de amor, nem tão repleta de alegria, apesar de estar, como sempre, repleta de necessidades”.9

O que aconteceu naquela cidade aconteceu também em outras regiões, sob a liderança de outros homens, especialmente em Nova Jersey. Os diferentes focos de avivamento foram se aproximando e acabaram por se unir quando o jovem inglês George Whitefield (24 anos) chegou da Inglaterra e começou a pregar em grande parte das treze colônias.
Revista Ultimato
Edição 317
Março-Abril 2009