A marcha para Cristo e a marcha dos zumbis - Pr. Ednilson Correia de Abreu

Coincidentemente duas marchas ocorreram no mesmo dia na cidade de são Paulo, a marcha para Jesus e a marcha dos zumbis. Seres humanos parecem que gostam de marchar, talvez porque em grandes grupos os sentimentos de insegurança e pequenez são substituídos pelo sentido de grandeza alimentado pela multidão que acaba gerando um efeito psicológico de poder, pelo menos enquanto a macha ocorre.

Quando vi a notícia das duas marchas: a dos evangélicos e a dos zumbis, acontecendo no mesmo dia e na mesma cidade, não pude deixar de fazer imediatamente uma analogia entre ambas e infelizmente triste analogia.

Quem são os zumbis que marcharam? Os zumbis que marchavam em são Paulo eram na maioria jovens admiradores de filmes de terror que queriam, talvez por falta de opção melhor, aparecer e promover este gosto através desse evento, estavam lá centenas de pessoas andando com se tivessem acabado de sair da cena de Triller do Michael Jackson. Jovens mascarados com maquiagens grotescas, de cadáveres e monstros , inclusive havia um personagem que representava o homem sem cabeça.

Infelizmente eles sem saber, ao marchar como zumbis apresentavam uma imagem profundamente real de si mesmos, exteriorizando realidades muito mais verdadeiras do que eles podem imaginar através daquelas tristes figuras, ainda que sorridentes, revelavam talvez a verdadeira face da maioria deles.

Na mitologia esotérica os zumbis são monstros humanos, entes que morreram, mas que se levantaram do túmulo ou mesmo vivos foram assim transformados para penar entre os homens, são mortos vivos, tem um olhar perdido, aspecto mórbido, não pensam, são vitimas enfeitiçados, usados por algum líder espiritual que os dominam com fins maléficos.
No Haiti onde a cultura da religião Vodu está fortemente estabelecida, as pessoas tem pavor de serem “transformadas” em zumbis pelos lideres espirituais, leia-se, feiticeiros, que segundo o pensamento dominante dentro daquela cultura de medo, os pode dominar através da magia vodu.

No mesmo dia, em São Paulo acontecia uma marcha maior, mais estruturada e mais antiga a marcha para “Jesus”, feita por evangélicos. Essencialmente não tenho nada contra marchas, acho que dentro de determinados motivos e contextos bem claros e limpos e com propósitos coerentes elas tem o seu valor, exemplo: marcha contra a injustiça, contra a impunidade, contra a violência, a favor da vida, etc.

Mas as marchas também têm o seu perigo, pois elas podem se transformar em massa de manobra para líderes inescrupulosos (religiosos e políticos) que as manipulam, que fazem dessas marchas eventos de impacto, factóides como uma cortina de fumaça para encobrir os seus golpes e sua falta de pudor no uso do nome de cristão ou evangélico, como creio já tem ocorrido no caso da marcha para “Jesus” .

Infelizmente, creio que nessa marcha havia muita gente de Deus, gente sincera, caminhando e gritando de todo o seu coração aquilo em que crê, mas nesse contexto em que estamos vivendo hoje como igreja, não vejo muito sentido nesse tipo de evento, pois infelizmente , digo de todo o coração, infelizmente, pois também sou evangélico, mas espero não ser “evangélico”, que muitos daqueles que marchavam naquele dia em são Paulo poderiam entrar em qualquer uma das marchas, a de “Jesus’ ou a dos zumbis. Fosse com um camisa escrito Jesus ou uma face com cara pitada de defunto. E não se dariam conta do erro na fila.

Infelizmente muitos ditos “evangélicos” estão mais para zumbis existenciais, vivendo em contextos de morte, de engano, de manipulação onde os seus cérebros e cabeças lhes foram arrancados, deixando-os com olhares vagos, perdidos no espaço sem sentido e sem perspectivas criticas que já lhes foram extirpadas, e o que parece ter lhes restado é apenas o marchar , marchar e marchar.

Jesus não precisa de marcha, ele não é político, por sinal a grande marcha que o acompanhou foi a dos que gritavam, crucifica-o!

Jesus deseja ver os cristãos marchando a marcha da vida, onde o seu povo vai seguindo, espalhado pelo mundo, salgando e iluminando, marcando com graça e verdade os contextos onde a morte, o vazio e o desespero tem prevalecido, impregnando com o cheiro de Cristo os lugares por eles habitados. E não como zumbis que estão mortos e cheiram a morte e enfeiam a vida por serem um forte símbolo de escravidão espiritual, pessoas dominadas e manipuladas, sem perspectivas e sem direção.

Infelizmente muitos líderes ditos cristãos estão tentando transformar aqueles que estão sob as suas influencias em verdadeiros zumbis “cristãos”; existem líderes que tem se ocupado em desenvolverem uma cultura “evangélica” zumbi , formando gente pronta a marchar em qualquer direção sob o comando deles.

Se continuarmos no rumo que vamos as duas marchas acabarão se tornando uma só, a feiura externa dos zumbis vai se unir com a realidade podre do interior de muitos “evangélicos’. formando assim uma simbiose má de seres estranhos, zumbis de alma, manipulados, sem vida que apenas marcham, marcham, e marcham sem saber onde querem chegar.

Que Deus tenha misericórdia de todos nós.
“Liberte os que estão sendo levados para a morte; socorra os que caminham trêmulos para a matança!” Pv 24.11 (NVI)

Pr. Ednilson Correia de Abreu
Pastor da Primeira Igreja Batista em Ecoporanga – ES

Fonte: http://www.adiberj.org/portal/2009/11/14/a-marcha-para-cristo-e-a-marcha-dos-zumbis/