A pergunta crucial, da qual resultam todos os questionamentos quanto à doutrina da predestinação é: “por quem Cristo morreu?” Essa indagação foi feita em toda a imprensa mundial por causa do filme de Mel Gibson sobre a Paixão de Cristo. A resposta calvinista é:” Cristo morreu por alguns”. A resposta do apóstolo Paulo é “Cristo morreu por todos” (2Co.5:14,15): “Por que o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: se um morreu por todos, logo todos morreram; e ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”. Os batistas ficam com o apóstolo Paulo. Cristo morreu por todos, não apenas por todos os eleitos, mas por todos os seres humanos. Essa concepção dos batistas é fundamento da sua poderosa visão missionária.
Como crêem os batistas: Cristo morreu por todos, mas nem todos serão salvos porque a porta da vida eterna foi aberta pelo sangue de Cristo, mas por ela só entrarão os que aceitarem a oferta da sua graça pela fé. O artigo VII da Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, sobre o reino de Deus, declara: “O reino de Deus é o domínio soberano e universal de Deus e é eterno. É também o domínio de Deus no coração dos homens que, voluntariamente, a ele se submetem pela fé, aceitando-o como Senhor e rei”. Os batistas crêem que a todos os seres humanos deve ser dada a oportunidade de receber o convite de Jesus para a vida eterna e estão dispostos a empregar voluntariamente todo o esforço em oração, pregação, testemunho por todos os meios possíveis, para que todos os seres humanos possam ouvir de Cristo e aceitá-lo como Salvador. Nenhum ser humano está fora do alcance da graça redentora de Cristo. Nenhum salvo está fora do compromisso de cumprir a ordem de Cristo para ir e fazer discípulos em todas as nações.
História que Explica... no começo de sua históra na Inglaterra, os batista tinham um grande ardor missionário. Tomáz Helwys, companheiro de John Smith na fundação da primeira igreja batista da história, em Amsterdã, em 1609, logo foi tomado de profunda inquietação e voltou para a Inglaterra para evangelizar o seu povo. Em 1612, ele organizou a primeira Igreja Batista em solo inglês. Essa Igreja começou a se multiplicar rapidamente e, em 1626, segundo o historiador Justo Anderson, já havia quatro igrejas, Surgiram, então, na Inglaterra, as igrejas batistas que adotaram uma confissão de fé calvinista. Devido à sua visão de que Cristo morreu por um número particular de pessoa, eles foram chamados de “batistas particulares”. Os outros batistas, por aceitarem a interpretação de que a morte de Jesus foi a favor de todos os homens em geral, foram chamados de batistas gerais. Os batistas gerais continuaram com seu fervor missionário, que foi crescendo até se tornar uma grande obra missionária mundial, enquanto os batistas particulares, com sua doutrina calvinista da eleição, perderam por completo o ímpeto evangelístico. Seus cultos, suas pregações eram só para os eleitos e assim as igrejas perdiam a força cna comunicação da mensagem do evangelho.
A Identidade Batista... os dois princípios característicos dos batistas desde o início foram: Primeiro, a autoridade e a suficiência da Bíblia em matéria de doutrina e conduta. Segundo: a competência do indivíduo para examinar a verdade, aceita-la e divulgá-la . Por aceitarem a suficiência e a exclusividade da Bíblia em matéria de fé, os batista entenderam que a savação deve ser estendida a todos os homens, que não há outro meio possível para a salvação do ser humano e que Deus deseja que todos sejam salvos. Por entenderem que todos os salvos são competentes para serem agentes da salvação para todos os povos da terra, os batistas sempre foram ardoroso em cumprir o “Ide de Jesus”. Os batistas se caracterizam pelo seu profundo apego à liberdade e rejeitam a idéia de uma salvação imposta, que anule o livre-arbítrio de cada ser humano para se decidir entre a vida eterna e a perdição. Esse apego à liberdade está patente na sua eclesiologia, por meio da forma de governo democrático congregacional, sem sacerdotalismo, sem hierarquia, sem oligarquia e sem aliança nem injunções com os governos. O apelo dos batistas à liberdade é também o segredo do seu espírito missionário, pois eles crêem que todos os seres humanos são livres para aceitar a Cristo como Salvador. O conceito batista de dízimo e contribuição também está ligado a essa noção de liberdade. Os batistas nunca aceitam a cobrança dos dízimos pelo governo, nem jamais aceitaram receber dinheiro do governo para o sustendo dos seus cultos ou ministérios, mas sempre propugnaram pelo principio da voluntariedade. Eles entendem que a sua justiça deve exceder dos escribas fariseus que dizimavam até os temperos da horta do seu quintal. Tudo o que eles puderem dar em foram de dízimo e ofertas nunca será demais em razão da grandeza da tarefa missionária nacional e mundial, na qual eles se engajam voluntariamente. A história dos batistas confunde-se com a história de missões. Se perdermos o nosso fervor missionário, perderemos a nossa principal característica do que é ser batista.
Conclusão I... os povos do mundo não estão salvos por antecipação. Eles precisam ouvir falar de Cristo para que o aceitem como Salvador. Mas, como ouvirão se não houver quem pregue? Nossa conclusão é que não devemos nos contentar com uma firme ortodoxia bíblica e com uma doutrina em tudo aprovada. O que Jesus espera de nós, salvos pela sua graça, é que estendamos o seu convite de amor para a salvação a todas as mulheres e a todos os homens da terra.
Somos Calvinistas? A Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, adotada pela quase totalidade das igrejas batistas do Brasil, não é omissa nem ambígua em relação à doutrina bíblica da predestinação. No capítulo VI, sob o título Eleição, assim preceitua a Declaração: “Eleição é a escolha feita por Deus em Cristo, desde a eternidade, de pessoas para a vida eterna, não por qualquer mérito, mas segundo a riqueza da sua graça. Antes da criação do mundo, Deus, no exercício da sua soberania divina e à luz de sua presciência de todas as coisas, elegeu, chamou, predestinou, justificou e glorificou aqueles que, no decorrer dos tempos, aceitaram livremente o dom da salvação. Ainda que baseada na soberania de Deus, essa eleição está em perfeita consonância com o livre arbítrio de cada um e de todos os homens. A salvação do crente é eterna. Os salvos perseveram em Cristo e estão guardados pelo poder de Deus em Cristo Jesus. Nenhuma força ou circunstância tem poder separar o crente do amor de em Deus Cristo Jesus. O novo nascimento, o perdão, a justificação, a adoção como filhos de Deus, a eleição, o dom do Espírito Santo assegura aos salvos a permanência na graça da salvação”.
Predestinação e Confissões de Fé Batista... Antes da Declaração Doutrinária da CBB, aprovada na sua 67ª Assembléia em Campo Grande, MS., em 1986, aceitava voluntariamente pelas igrejas batistas do Brasil e por todas as entidades da da CBB por injunção estatutária, os batistas brasileiros expressavam suas doutrinas na Confissão de New Hampshire, que estava em uso pelas igrejas da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, aprovada em 1833 e que foi simplesmente traduzida para o português. Na confissão de New Hampshire, no artigo VI, Da Livre Salvação, assim lemos: “Cremos que as bênçãos da salvação são livremente dadas a todos pelo evangelho; que é dever imediato de todos aceita-las pela fé cordial, penitente e obediente; e que nada impede a salvação do maior pecador do mundo, mas apenas a sua depravação inerente e rejeição voluntária do evangelho; que tal rejeição envolve-o em grave condenação. Em 1925, as igrejas da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos aprovaram uma nova declaração doutrinária chamada Mensagem e Fé Batista, revisada em 1963, que dizia textualmente, no seu artigo III: “A salvação envolve a redenção do homem todo e é oferecida livremente a todos os que aceitam Jesus Cristo como Senhor e Salvador, que por seu próprio sangue obteve eterna redenção em favor do crente”.
Soberania de Deus e a Liberdade Humana... como vemos, os batistas tradicionalmente aceitam a doutrina da soberania de Deus e, dentro dessa soberania, entendem que o ser humano foi dotado de livre-arbítrio pelo Soberano Criador, podendo aceitar ou rejeitar livremente a oferta de amor de Deus e que a expiação pelo sacrifício de Cristo na cruz foi feita em favor de todos os homens e não apenas de um grupo previamente selecionado por Deus. A expressão “Ainda que baseada na soberania de Deus, essa eleição está em perfeita consonância com o livre-arbítrio de cada um e de todos os homens” expressa de modo magistral, admirável mesmo, a posição equilibrada, bíblica, sensata, que os batistas adotam em relação a uma doutrina de fundamental importância. Em 2Timóteo 2:4, Paulo afirma que Deus, nosso Salvador, “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade”. A expressão “todos os homens” abrange toda a humanidade. Deus não seleciona alguns homens para a perdição e outros para a salvação, embora pudesse faze-lo, por sua soberania, porque o desejo do seu amor é que “todos os homens se salvem”. Falando sobre a volta de Cristo, Pedro afirma que “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se” está óbvio de mais para não ser entendido: Deus não quer que ninguém (nenhum ser humano) se perca, senão que todos (todos os seres humanos) venham a arrepender-se. Esse é o desejo de Deus. “Nenhum” não deixa ser humano algum fora do propósito da redenção. “Todos”, inclui todos os seres humanos sem discriminação, na possibilidade de arrependimento. Em Tito 2:11, Paulo afirma que a grade de Deus se manifestou trazendo salvação a todos os homens. Portanto, cremos que, na sua presciência e nas prerrogativas da sua soberana vontade, antes da fundação do mundo, Deus predestinou para a salvação a todos aqueles seres humanos de toda a história que, no uso da liberdade que o próprio Deu lhe deu, voluntariamente, aceitaram crer em Jesus como Salvador e Senhor. Em Efésios 2:8, Paulo afirma que “Pela graça sois salvos por meio da fé”. A graça oferece o dom. A fé o aceita. Todos os que aceitam a oferta do amor de Deus, o seu dom graciosos, inserem-se, por isso, no número daqueles que foram predestinados por Deus para a vida eterna.
Conclusão II... os batistas não são calvinistas em relação à predestinação. Não aceitamos que Deus tenha predestinado seres humanos à perdição eterna antes mesmo de eles nascerem para poderem cometer pecados para serem condenados. Não somos calvinistas quanto à limitação da salvação a um número pré-determinado de escolhidos, excluídos da graça redentora todos os demais seres humanos. Esse ensino não condiz com o caráter justo e amoroso de Deus. Ou seja, a soberania de Deus não elimina nem limita o seu amor nem se sobrepõe à sua justiça. Mas os batistas são calvinistas desde a sua infância na história quanto a impassibilidade da perda da salvação. Cremos na perseverança dos santos, como afirma o artigo VI da nossa Declaração Doutrinária: “A salvação do crente é eterna. Os salvos perseveram em Cristo e estão guardados pelo poder de Deus em Cristo Jesus.”