Batistas celebram 400 anos

Seg, 13 de Abril de 2009 01:16
Neste ano, os batistas estão completando 400 anos. A Aliança Batista Mundial fará uma grande celebração por ocasião do seu Conselho Geral, de 27 de julho a 1 de agosto de 2009, em Ede, a 50 quilômetros de Amsterdam, Holanda. No Brasil, a Convenção Batista Brasileira também promoverá celebrações.

Comemorações entre os batistas têm tido dificuldades por algumas questões. No Brasil mesmo, a Convenção decidiu, após um debate, que o marco inicial batista se deu com a fundação da igreja localizada em Salvador (BA), em 1882. As celebrações não encerraram os debates, que não terminarão agora que a Convenção, por sua assembleia última em Brasília, decidiu que o marco inicial batista foi em 1871, em Santa Bárbara (SP),
O mesmo deve se dar com as comemorações do quarto centenário, como o evidencia a própria decisão da Aliança Batista Mundial ao usar a expressão "400 anos do movimento batista". Infelizmente, uma questão apenas historiográfica acabou por se tornar uma questão doutrinária, como se o lugar dos batistas na história precisasse ser avaliado por sua antiguidade e não por sua fidelidade às Escrituras.
Para muitos, os batistas começaram às margens do rio Jordão, próximo a Jerusalém, onde João o batizador imergia as pessoas que se arrependessem e cressem (vindo daí o anagrama JJJ para designar esta posição). O sucessionismo batista (a ideia de sempre houve batistas desde os tempos de Jesus) surgiu a partir de meados do século 19. J. R. Graves cria que "Cristo, ainda nos dias de João o Batista, estabeleceu um reino visível na terra, e que este reino nunca foi feito em pedaços. (...) Se seu reino permaneceu intacto, e o será até o fim, (...) seu reino não pode existir sem verdadeiras igrejas". S.H. Ford defendida uma "continuidade ininterrupta do reino de Cristo, desde os dias de João o Batista até agora, segundo as expressas palavras de Cristo". Essa ideia foi disseminada no livro "O rasto de sangue", de J.M. Carroll, publicado em 1931 nos Estados e duas décadas depois no Brasil.
Além desta expressão apologética, há ainda outra dificuldade. Os fatos relacionados ao surgimento dos batistas são pauperrimamente documentados. Pouco se sabe sobre o calvinista John Smyth (1570 - c.1612) ou o arminiano Thomas Hellys (c. 1550 - c. 1616). No entanto, o que se sabe permite registrar, sem margem de erro, que os primeiros batistas surgiram em 1609 em Amsterdam.
Um grupo de "pessoas livres do Senhor", pastoreadas por John Smyth, começou a se reunir na Inglaterra. Perseguido, migrou para Amsterdam, possivelmente com recursos do advogado Helwys. Todos queriam liberdade civil e religiosa, possível na Holanda e inexistente na Inglaterra.
Para Smyth, uma congregação só pode ser formada por crentes adultos, batizados segundo a consciência. Seguro que este era o ensino do Novo Testamento, Smyth pediu a Helwys que batizasse a congregação, mas a proposta não foi aceita. Smyth, então, o fez, aspergindo-se primeiro a si mesmo e depois aos outros membros, inclusive Helwys, que pouco tempo depois assinaria uma confissão de fé que considerava o batismo como uma manifestação exterior da morte com Cristo visando a novidade de vida, razão por que não deveria ser ministrado a crianças.
Num tempo de instabilidade, alguns irmãos se uniram com os menonitas, enquanto outros voltaram para a Inglaterra, onde formaram (em 1612) uma igreja, sob a liderança de Helwys, que foi preso e morto quatro anos depois.
Várias outras igrejas independentes foram surgindo, resultando em crescimento e na descoberta da imersão. Um membro de uma das igrejas existentes na Inglaterra, lendo o Novo Testamento, concluiu que o batismo não só não deveria ser ministrado a crianças como deveria ser realizado por imersão. Como ninguém da congregação, que era calvinista (ou "particular", por crerem que a redenção era só para os eleitos) fora imergido, este irmão, Richard Blunt, buscou um grupo que o fizesse. Os "Collegiants" batizavam deste modo. Ele então se submeteu ao batismo em 1641 e depois batizou os demais 52 irmãos ingleses. Pouco depois, os batistas "gerais" (arminianos) também aderiram. A Confissão de Fé de 1644 trazia a imersão como a forma aceitável de batismo.
As igrejas batistas cresceram (rapidamente, para os padrões da época), chegando a 47 comunidades em 1644 e 115 em 1660.

Esta é a história que precisa ser pesquisada, contada e celebrada.
Temos agora, neste quarto centenário, a oportunidade de agradecer a Deus pelo testemunho de tantos pessoas, contadas hoje em 37 milhões de membros (em 160 mil igrejas), dos quais 1,7 milhões na América Latina (1,3 milhões no Brasil), 5 milhões na Ásia, 8 milhões na África e 21 milhões nos Estados Unidos.
Que os batistas no Brasil não percam a oportunidade de celebrar este quarto centenário.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO